1 de dez. de 2012

JOGO LIMPO

De Belo Horizonte.
Por Matheus de Oliveira.

O já conhecido time ucraniano Shakhtar Donetsk duelava com uma equipe de nome impronunciável e que só com a ajuda do São Google foi possível escrevê-lo - na base do CRTL + C e CRTL + V, é claro - o Nordsjaelland, da Dinamarca. A partida foi vencida por 5 a 2 pelo clube da Ucrânia.

Mas não foi a quantidade de gols que chamou a atenção no confronto, que seria apenas um coadjuvante em meio a grandes jogos da Liga dos Campeões da Europa. O que despertou o interesse geral foi um dos três gols marcados pelo atacante brasileiro Luiz Adriano (foto), ex-Internacional, atualmente no Shakhtar.

Na ocasião, sua equipe devolveria a bola ao time adversário (que a jogou para fora para que um atleta fosse atendido pelos médicos), mas o jogador aproveitou a ocasião, em que todos estavam parados – inclusive o goleiro adversário - para fazer o gol, enquanto o estádio inteiro, surpreendido, olhava para a cena classificada como uma “descortesia” pelo jornalista William Bonner. Sandra Annenberg diria “deselegante”.
Foto Getty Images
De tão improvável, o fato ganhou 36 segundos no horário mais nobre da Rede Globo, durante o Jornal Nacional. Adjetivos para condenar o atacante não faltaram. Inevitavelmente me veio á cabeça o gol de mão marcado por Maradona na Copa de 1986, contra a Inglaterra. Eu só nasceria sete anos depois, mas quem não conhece a história de “la mano de Dios” (a mão de Deus)?

Luiz Adriano foi lançado ao fogo do inferno, enquanto o ídolo argentino foi exaltado pela “obra divina”. Em 26 anos muita coisa mudou e passamos a enxergar o futebol mais como um esporte em que a ética deve prevalecer, do que um jogo em que tudo vale para vencer. Fato ocasionado pela chegada recente do politicamente correto.

O fair play, traduzido para o português como jogo limpo, quer dizer praticar o futebol com base na moral e nos bons costumes, o que deveria ser algo natural e não apenas no esporte, mas na vida. Ter moral por obrigação é como pedir perdão sem se arrepender. O fair play deve ser, mais do que o ato, a intenção.

Devolver a bola ao adversário quando ele a coloca para fora para que os médicos atendam um colega de trabalho é fair play, mas na hora de entregar a bola mandá-la longe de onde saiu, não.  E para ser fair play de verdade não pode cavar falta, nem pênalti; cair para amarrar o jogo quando seu time estiver ganhando. Deve sempre assumir a infração cometida contra o adversário mesmo que gere um gol contra sua equipe. E por aí vai... O fair play que vemos é hipócrita.
Foto: Divulgação
O veterano polonês naturalizado alemão Miroslav Klose, segundo maior artilheiro de Copas do Mundo - ao lado do germânico Gerd Müller, ambos com 14 gols em mundiais - e atualmente jogador da Lazio, marcou um gol de mão na derrota de sua equipe por 3 a 1 para o Napoli, em outubro, pelo Campeonato Italiano. Klose assumiu o erro: "O árbitro me perguntou se havia tocado a bola com a mão. Confessei que sim. Era o que poderia fazer. Há tantos jovens que assistem aos jogos pela TV, para quem somos modelos”.

Esse é o verdadeiro jogo limpo que dificilmente seria aplaudido por aqui. Imagine o árbitro anular um gol do seu time porque o atacante admitiu que foi ilegal. Você condenaria ou aplaudiria?

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