25 de jul. de 2014

A AMÉRICA É DO GALO

Cada um tem sua paixão. No decorrer da minha vida, sem influência do meu pai que é atleticano, me tornei um atleticano chato e fanático igual meu pai era em sua juventude. Meu pai chegou a ir em uma final de Campeonato Brasileiro no Maracanã, chegou a ver o São Paulo se sagrar campeão dentro do Mineirão lotado e outras inúmeras quedas do Galo dentro do Mineirão. Com o decorrer do tempo ele foi diminuindo o fanatismo, se tornou pai de família, mas mal sabia que o filho dele seria o mesmo ou pior do que ele.

No dia 12 de junho de 1998, eu tinha 5 anos na época, eu vi uma Seleção de Zidane destruir o Brasil em uma final de Copa do Mundo. Aquela seria minha primeira experiência com o futebol. Depois o Galo foi aos poucos tomando conta do meu coração. Me decepcionei na final do Campeonato Brasileiro de 1999 contra o Corinthians, a queda diante o São Caetano no Brasileiro de 2001, outra queda para o Corinthians em 2002 e aí veio os pontos corridos.

Malditos pontos corridos. Em 2004, briga pra não cair, em 2005 o rebaixamento. Como eu chorei no dia 27 de novembro de 2005 no empate em branco do Atlético contra o Vasco. Uma coisa ficou marcado naquele choro pro resto da minha vida enquanto eu estava ouvindo o jogo na Itatiaia: A torcida cantando o hino após a confirmação do rebaixamento foi a coisa mais arrepiante que presenciei.

Em 2006 fiz meu pai voltar ao estádio. Enchia a paciência dele pra todo santo jogo ele me levar. Lógico que ele não me levou em todos, mas vi 8 jogos da campanha do time de Levir Culpi que colocou o Atlético de volta do lugar onde nunca deveria ter saído.

Em 2007 a meta era outra. Aquele menino de 14 anos só queria viver um perigoso clássico no Mineirão. O primeiro do ano na primeira fase, ele não pode ir. Ainda bem, ficou guardado o melhor jogo pra ele. Atlético 4 x 0 Cruzeiro com gol de chapéu do Danilinho no goleiro adversário que sofreu um gol de costas do fraco Vanderlei. Outro dia marcante: 29 de abril de 2007.

Daí pra frente outros gostos amargos foram provados pelo atleticano, o pífio centenário do clube que só amargou campanhas fracas e times abaixo da média, duas goleadas seguidas históricas para o rival, vivenciada por mim no estádio, nas finais do estadual de 2008 e 2009 e uma briga pelo Campeonato Brasileiro de 2009 que o time não aguentou o ritmo e terminou na 7° colocação. Atrás do poderoso Avaí.

Em 2010, uma esperança com a contratação de Vanderlei Luxemburgo que virou pesadelo. Dorival veio salvar o Galo do rebaixamento certo daquele ano e quase o rebaixou no ano seguinte. Cuca veio salvar o nosso time em 2011, mas outra marca negativa histórica seria vista pelos atleticanos. O 6 a 1 para o rival Cruzeiro na última rodada do Brasileiro daquele ano.

O atleticano ficou com uma ferida aberta por muito tempo, mas ela foi necessária. O pensamento do Clube Atlético Mineiro mudou após aquela goleada. Sendo vaiado na semi-final do Campeonato Mineiro de 2012 e com alguns torcedores apontando o América, outro finalista da competição, como favorito ao título, o título veio de maneira invicta e Kalil começou a gostar de ver o time jogando bem e brigando por títulos. Vieram Victor, Ronaldinho e Jô e o time ficou com uma liga boa. O Galo brigou pelo título do Campeonato Brasileiro, mas amargou um vice-campeonato para o Fluminense.

Eu quase todos os dias de 2009 ou 2012 eu sonhava com o dia que o Atlético ganhasse algo de expressão. As lágrimas vinham aos meus olhos só de imaginar. Jurei não criar expectativa na Libertadores que seria disputada em 2013.

Em 2013, Diego Tardelli chegou ao time. Tudo que o Galo precisava pra aquele time, que era uma máquina em 2012, se transformar na equipe mais encantadora do Brasil no primeiro semestre daquele ano.

Logo de cara, veio o primeiro lugar geral da fase de grupo da Libertadores em um grupo em que o São Paulo era apontado como favorito. Na final do Mineiro, o Cruzeiro não tomou conhecimento do time atleticano no Horto e tomou uma sapecada de 3 a 0. Nas oitavas de final da Libertadores, contra o São Paulo, uma vitória no Morumbi no primeiro jogo e um sonoro 4 a 1 de um time que jogou por música até este momento. Lembra do juramento? Ele foi quebrado. A expectativa foi criada.

Nas quartas de final, o time não jogou bem nas duas partidas e o mundo presenciou o aparecimento de um santo. São Victor do Horto apareceu pela primeira vez na noite do dia 30 de maio de 2013 e defendeu um pênalti, que se fosse convertido eliminaria o time atleticano, e salvou o Galo de uma eliminação precoce.

Na semifinal uma derrota de 2 a 0 na Argentina contra o Newells Old Boys e o empate aqui no Horto. São Victor do Horto apareceu novamente na cobrança de pênaltis e levou o Galo pra final em um jogo que teve todos os ingredientes de sofrimento.

Na final era esperado que o sofrimento diminuísse, mas todo sofrimento é pouco para o atleticano. Outra derrota na primeira partida da final para o Olímpia por 2 a 0 no Paraguai e outra vez o time atleticano teria que correr atrás do prejuízo.

No dia 24 de julho de 2013, o jogo começou. Mineirão lotado, e o primeiro tempo sem gols aumentou toda a agonia da torcida espalhada pelo mundo. No começo do segundo tempo, gol do Jô e as esperanças foram renovadas. Foram renovadas e foi acompanhada a todo tempo pela agonia que só aumentava, faltava um gol. Aos 41 minutos e 44 segundos, Bernard cruzou na área e Leonardo Silva, de cabeça, marcou o gol que igualaria a decisão. Na prorrogação, o empate persistiu e mais uma disputa de pênaltis seria presenciada.

Eu lembro do exato momento em que meu pai, no Mineirão, disse: "A disputa de pênaltis vai ser do mesmo lado que foi disputada na derrota na final do Campeonato Brasileiro de 1977. Não era coisa para se pensar no momento, mas estes pensamentos vem a cabeça mesmo.

As cobranças foram se realizando e o Atlético foi convertendo todas. Pelo lado dos paraguaios, São Victor defendeu a primeira cobrança e Gimenez foi para a última cobrança. Bola na trave. Minhas idealizações durante todos os meus anos de vida se tornaram realidade. O ATLÉTICO ERA CAMPEÃO DA COPA LIBERTADORES DA AMÉRICA. Eu só sabia chorar, chorar, chorar e agradecer por aquele momento vivido por volta de uma da manhã do dia 25 de julho de 2013. Foi a maior alegria da minha vida.

Meu pai, que viveu tanto e amargou cada momento ruim do Atlético, viu do meu lado este momento histórico. Hoje as lágrimas vem aos meus olhos da mesma maneira que ha exatos 365 dias atrás. Só quem ama o Atlético sabe o que eu estou dizendo. Eu só posso agradecer à diretoria e os jogadores por este momento vivido.

ATLÉTICO, UM ANO CAMPEÃO DA AMÉRICA.

Bruno Santana de Souza

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